Inseparável sinergia
O desuso de tradicionais meios de comunicação (jornais, TVs, rádios, revistas) por parte da
sociedade moderna e a maior proximidade dos consumidores com as novas tecnologias e as
informações difundidas pela internet e as redes sociais, principalmente em tempos de pandemia,
intensificaram as demandas, sobretudo das empresas e demais agentes econômicos, por confiáveis
informações e por procedimentos cada vez mais transparentes e claros. Nos negócios, assim como nas
políticas públicas, dados analisados com velocidade e informações rápidas e corretas são essenciais
nos processos decisórios e para ações mais acertadas e efetivas. Essas premissas valem também para
os novos marcos legais, com efeitos nos níveis locais e globais. Legislações construídas de forma
participativa e democrática, com o real envolvimento de todos os agentes impactados por
determinado empreendimento ou política pública, costumam gerar, na grande maioria das vezes,
menos ruídos de informação e mais respeito às vigentes regras de “compliance”, governança e
responsabilidade colaborativa.
A prova disso são os recentes anúncios do segmento das “big techs”: investimentos de cerca
de R$ 1 bilhão, por três anos, para o pagamento de conteúdos jornalísticos no mundo, resgatando a
valorização da mídia independente no ambiente digital e seus efeitos democráticos e positivos nas
economias. Trata-se de um movimento, liderado mais recentemente pelo parlamento e governo
australianos, na direção das “real news”, que tendem a ganhar força e importância no jogo econômico
global e na cruzada internacional em defesa da privacidade e contra as notícias falsas e a censura.
Tais planos, que envolvem decisões significativas de comunicação e relações governamentais
e públicas, não são uma novidade. Já em 2012, uma estratégia de “Public Affairs”, implantada dentro
do Parlamento do Brasil, com a participação de diversos “stakeholders” da área da Saúde, inclusive
ONGs, médicos e hospitais, permitiu a rápida aprovação, por unanimidade, nas duas casas legislativas
(Senado e Câmara Federal) da Lei da Quimioterapia Oral (12.880/2013). O projeto de lei, de autoria da
ex-senadora Ana Amélia Lemos, demorou pouco mais de dois anos para entrar em vigor, possibilitando
aos pacientes com câncer usuários de planos de saúde acesso ao tratamento via oral, sem sobrecargas
ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou judicializações. Cabe lembrar que, naquele período, um novo
marco legal demorava em média 10 anos para ter a aprovação de deputados e senadores brasileiros.
Esse histórico reforça que estratégias de comunicação e relações governamentais funcionam
melhor quando são sinérgicas e permanecem tão unidas quanto gêmeos siameses. Quem conhece a
fantástica história dos originais irmãos Chang e Eng Bunker (1811-1874), filhos de chineses que tiveram
21 filhos, fizeram fortuna e prosperaram nos Estados Unidos do século 19, entenderá que a conexão e
união de diferentes mentes, quando mantidas e incentivadas no mesmo organismo, resultam muito
mais em sucessos que em fracassos.
Gustavo Bernard – Analista Sênior de Política e Relações Governamentais e Consultor em Comunicação Estratégica